Realpolitik do amor

Rafael Vendetta

Ruiva, prendi você numa caixinha em formato de coração. Enterrei bem fundo, bem fundo, ruiva. Cavei muitos buracos, e chovia. Cavei para esquecer onde enterrei. Onde enterrei teu coração.

Aí te acompanhava de longe. Era uma carta, era uma poesia. Uma notícia distante, uma carta. Era eu aqui, cheirando e beijando outra pessoa, pensando em você. Cheirando tuas cartas.

Quando tudo se aquietou eu lembrei quer era permitido sonhar. Num sonho, ruiva, eu desenterrava a caixinha, mas não encontrava nada dentro. As caixinhas estavam vazias. E alguém me dizia que na verdadeira, estava meu coração, não o teu. Ruiva, não consigo mais escrever. Perdi você e as letras. Enterrei meu coração e não sei onde está ruiva.

Você vai correr e se esquecer de mim. Eu vou envelhecer, morrer, sonhar. Não importa. O fato é que não nos encontraremos mais por que ambos somos covardes. Eu vou envelhecer e me arrepender; pois é isso que fazem os covardes.

Tentar viver uma ilusão é necessário. A realpolitik do amor é o presente, e o presente não voa como você voava, assim, num susto de verão.

Estou bem ruiva, mas falta-me uma dose de acaso, de você, da tua pele branca e do teu cheiro vermelho assim, espalhado no quarto depois do sexo. Falta aquela mordida, aquela recusa, e por que não dizer; que falta você tão instável, fazendo-me escrever repetidamente sobre algo que não se pode mais cavar, por que está enterrado num lugar que eu definitivamente já esqueci.

Não tenho mais pá, por que cavar a si próprio dói demais.

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