Por que andei atrás de um gato

Rafael Vendetta

De bicicleta, corri e nomeei lugares que já tinham nomes

Buscava um gato, mas não queria
Subtrair o gato de outrem
Queria um gato que surrado e só

Como eu, para me subtrair menos
Nos cantos dos mundos que olhei
Sem negar ninguém

Nomeei os lugares de outro jeito
Pois ver a vida de bicicleta
É nomear-se diante às rodas
Do mundo

Chamei aquela ponte que dividia
Minha coragem de sair das fronteiras
Do bairro, de ponte da amizade
Pois, eu saía para outro país
Como um estrangeiro

Que saiu, do seu bairro
Com o coração na mão
E um gato nas ideias

Mais adiante, pedalei até um éden
Que alguém, pacientemente plantou
Numa praça abandonada
Por anos, parecia floresta
Tal como meus pensamentos
Confusos, embrenhados

Fui, até Catargo de meu mundo
E disse pra mim mesmo
Pois quem não se diz
Todos os dias
Está controlado pelo mundo e não
Por sua bicicleta que lhe quer livre

Disse que aquele bairro era Marinheiro
Pois nunca vi
Fazerem quebra-molas
De cordas de amarrar navios
Que amarrariam minha angústia
Se ela coubesse em bicicletas

Mas ali era algo novo
E no outro local, estreito como minha
Esperança em lidar com a angústia
De si, sem um gato amarelo
Chamei de Paraíso dos Gatos
Pois haviam gatos, de todas as cores
Na calçada
Perto da mesa do bar
E uma camisa do flamengo
A rodear alguém que bebia
A me ignorar

Mas meu gato
Amarelo, cinza e branco, repentino como um fogo de Santelmo
Se foi, da última vez como eu
Que passei a andar e pedalar por lugares
Nomeando-os sem querer
Perdido, no fundo do mundo

Pois, eu, sem destino
Olhando a lagoa
No fundo de um felino
Pedalando dentro de mim
Esperava um gato
Até que eu por fim me perdesse

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